O segundo semestre de 2025 foi marcado por avanços na agenda de conservação, restauração florestal e fortalecimento da governança territorial no âmbito do Conservador da Mantiqueira. A articulação entre políticas públicas estruturadas, capacitação técnica, uso de tecnologia, valorização dos saberes tradicionais e protagonismo comunitário reafirmou o território como uma área estratégica para a conservação da Mata Atlântica.
O período começou em clima de celebração com os 20 anos do Conservador das Águas de Extrema (MG), projeto pioneiro no Brasil no uso do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Referência nacional e internacional, a iniciativa demonstrou, ao longo de duas décadas, que é possível conciliar conservação florestal, produção de água e desenvolvimento rural. Os números traduzem esse impacto: mais de 3 milhões de árvores plantadas, 3 mil hectares restaurados, cerca de 700 nascentes protegidas e mais de R$ 10 milhões investidos diretamente em produtores rurais. A experiência de Extrema segue inspirando políticas públicas em diversas regiões da Mata Atlântica.
Ainda no eixo do PSA, o Vale do Paraíba paulista avançou de forma significativa. Em Guaratinguetá (SP), a Prefeitura iniciou uma nova fase do Programa Produtor de Água “Nova Geração”, com o lançamento de edital e incentivo direto aos produtores da Bacia do Ribeirão Guaratinguetá. O programa já realizou o pagamento a 35 proprietários rurais. A política pública valoriza quem protege nascentes, restaura matas ciliares e adota boas práticas de manejo do solo, contribuindo para a segurança hídrica e a sustentabilidade no campo. Já em Bragança Paulista (SP), o Programa de PSA “Águas de Bragança” chegou ao seu segundo chamamento, ampliando o número de proprietários beneficiados e consolidando o PSA como uma ferramenta econômica estratégica para a conservação.
O mês de agosto foi especialmente intenso, com a realização de workshops sobre o Selo Verde em Itamonte (MG), promovidos pelo Consórcio Ambiental Altos da Mantiqueira. Além disso, ocorreu a 4ª Oficina do Conservador das Gerais, em Belo Horizonte. A iniciativa estadual se consolida como uma política pública estratégica ao propor uma metodologia de planejamento da paisagem baseada em banco de áreas, capaz de gerar oportunidades econômicas e atrair investimentos para a restauração florestal e a conservação.

Outro destaque do semestre foi o fortalecimento das ações de prevenção e manejo integrado do fogo. Piracaia (SP) e Pouso Alto (MG) avançaram na elaboração e implementação de seus Planos de Manejo Integrado do Fogo (PMIF), integrando conhecimentos técnicos, científicos e tradicionais. As iniciativas incluem a formação de brigadistas, oficinas e estratégias de prevenção, ampliando a resiliência socioambiental dos territórios. Em setembro, Bragança Paulista (SP) sediou uma oficina de elaboração do PMIF, organizada pela SIMBiOSE em parceria com a TNC Brasil e a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura. O encontro reuniu poder público, organizações da sociedade civil, brigadas florestais, proprietários rurais e comunidades locais, em um processo coletivo de construção de soluções que vão além do combate aos incêndios.
A capacitação técnica e o uso de tecnologia também ganharam destaque. Ao longo do semestre, diversas formações abordaram o uso de drones, o monitoramento ambiental e ferramentas digitais voltadas ao apoio à restauração e à gestão territorial. O Portal da Mantiqueira, plataforma de dados georreferenciados, atuou bastante nesse processo, com treinamentos realizados em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, envolvendo universidades, órgãos ambientais, prefeituras, sindicatos rurais, organizações da sociedade civil e empresas. Em setembro, a plataforma comemorou quatro anos de atuação, somando mais de 50 treinamentos realizados no último ano e cerca de 250 pessoas capacitadas, o que ampliou sua rede de usuários e parceiros. Para encerrar o semestre, o Portal apresentou um novo layout, mais moderno e funcional, que amplia o acesso às informações, qualifica a tomada de decisão e reforça seu papel estratégico na governança territorial e ambiental da Mantiqueira.
No campo da sociobiodiversidade, setembro foi marcado pelo 1º Encontro da Rede de Coletores de Sementes do Vale do Paraíba (COOPERE), que reuniu três dias de trocas, práticas em campo e debates sobre toda a cadeia das sementes nativas, da coleta à comercialização. O período também destacou o Encontro Conservação e Uso da Araucária, realizado em Virgínia (MG), fortalecendo o diálogo entre gestores públicos, produtores, catadores de pinhão, extensionistas rurais e organizações da sociedade civil, como a Associação de Moradores e Produtores Rurais dos Quatro Óleos e o Instituto SuperAÇÃO, em torno da conservação dessa espécie símbolo da Mata Atlântica.
Outubro e novembro mantiveram o ritmo intenso de atividades. Oficinas práticas, como a produção de abafadores em Piracaia, seminários sobre restauração e manejo do fogo, encontros de redes nacionais e trinacionais de restauração e ações de formação de novas redes de coletores de sementes reforçaram a integração entre territórios. Em novembro, um seminário em Mogi das Cruzes (SP) incentivou a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) no Alto Tietê, destacando o protagonismo feminino na conservação e os benefícios ambientais e econômicos desse instrumento.
Ao longo do segundo semestre de 2025, o Conservador da Mantiqueira reafirmou seu papel como um território vivo de inovação, onde políticas públicas, ciência, comunidades e natureza caminham juntas. Os avanços mostram que investir em planejamento, capacitação e cooperação é fundamental para enfrentar as mudanças climáticas, proteger a biodiversidade e promover qualidade de vida para quem vive e cuida da Mata Atlântica.